Retina Desgastada
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24 de fevereiro de 2010

A Ubisoft Está Certa... Mas Vai Perder

Enquanto as cinzas de Momo assentavam, uma notícia pegou a comunidade de jogadores de PC de surpresa, um sinistro prelúdio de tempos estranhos que se aproximam. Uma nova forma de DRM foi criada pela Ubisoft, que exigirá conexão permanente com a internet para jogar qualquer jogo:

"O tal sistema de proteção está causando bastante polêmica, com uma chuva de críticas por parte dos analistas e do público que já demonstra alguns manifestos para boicotar os títulos da publisher. Para piorar as coisas, a Ubisoft declarou que os próximos games da empresa para PC também vão usar esse sistema, o que deve afetar inclusive Splinter Cell: Conviction.

Tente imaginar a gravidade da coisa, você separou sua noite de sábado para jogar a campanha single-player do seu game favorito, até que o seu provedor de internet tem um problema e fica fora do ar, ai tanto faz se você está no meio do jogo ou estava prestes a abri-lo, seus planos vão por água abaixo, só porque o game original que você pagou exige estar online para rodar. No caso de Assassin's Creed II, por exemplo, se a conexão com a internet cai no meio da jogatina, a opção é salvar o último check-point e sair, perdendo todo o progresso desde o último ponto de salvamento.

Resta saber até quando a Ubisoft vai ter força para comprar essa briga com os jogadores..."

Respondendo à pergunta da Gamesbrasil, a Ubisoft parece estar disposta a ir até as últimas consequências e ignorou solenemente as críticas. E, se você quer minha opinião, eles estão certos em pensar assim.

Completamente Certos...

O jogo mais vendido da temporada, unanimidade de público e crítica, atende pelo nome de Call of Duty: Modern Warfare 2 (abreviemos para MW2). Milhões de cópias vendidas, um sucesso no mundo dos jogos comparável ao sucesso de Avatar no cinema. Se a Ubisoft não aprendeu nada com a lição de Avatar, ela entendeu o cerne de MW2: multiplayer.

Call of Duty: Modern Warfare 2Uma significativa parcela dos compradores de MW2 está interessada apenas nos aspectos multiplayer da experiência e, para o bem ou para o mal, essa realidade chegou para ficar no universo dos jogos de PC. É o que explica a inserção de partidas online em um título tão focado na experiência individual, como Bioshock 2. É o que explica o perpétuo atraso do Episode 3 de Half-Life 2, enquanto a Valve continua lançando incessantemente atualizações para Left 4 Dead, Team Fortress 2 e Left 4 Dead 2. É o que explica a imensa sobrevida de títulos medievais como Starcraft e Counter-Strike. É o que explica o marketing maciço das "novas modalidades" de Aliens vs Predator e a falta de um demo para single player. Como eu expliquei em minha análise de Duke Nukem 3D, a jogatina online está aí para cobrir o vácuo dos jogos descompromissados, estabelecer uma ponte entre o casual e o hardcore.

E o que é indispensável para o sucesso dos títulos multiplayer? Conectividade. Se sua conexão cai, o jogo acaba. Se uma ampla fatia do mercado está acostumada a este fato, por que não transpor essa lógica cruel para todos os jogos? Se sua conexão cai, o jogo acaba.

"Mas, em Assassin's Creed II, se a conexão cair, eu perco meu progresso desde o último checkpoint!", você pode estar reclamando. Falha de design do título. Aliás, para mim, checkpoints são coisa do passado: eu queria salvar na hora que eu quiser... mas, isso é outra discussão. Com o sucesso do novo DRM, os desenvolvedores colocarão algum sistema capaz de salvar o estado do jogo no momento da perda da conexão.

"Mas, eles não podem manter os servidores ligados por anos a fio! Um dia, daqui a dez anos, eu vou querer jogar Assassin's Creed II e não vou conseguir!", você pode estar antecipando. Olhe ao seu redor: pouquíssimas empresas dão qualquer tipo de suporte a jogos antigos! Sites oficiais desaparecem sem deixar vestígios, equipes de desenvolvimento são dissolvidas, códigos-fontes desaparecem, patches não são mais oferecidos, sistemas operacionais novos invalidam o jogo. É desagradável, mas não é novidade. O que resta? O apoio da comunidade ocasionalmente prolonga a vida útil de alguns jogos, enquanto outros, se tornam descartáveis: sempre foi assim e continuará sendo.

Com o fortalecimento do DRM, a indústria irá ampliar seu faturamento, prosperar, gerar mais empregos, mover a economia e caminhar rumo a um futuro promissor.

... Mas Vão Perder

Futuro promissor? Não me faça rir. Eu não acredito em lorotas.

No exato momento em que a indústria atinge o ponto de virada para conseguir criar a narrativa do século XXI, a febre multiplayer se alastra, derruba empresas, modifica agendas e faz toda a atenção se focar em um único aspecto da mídia: entretenimento. Para que roteiro, para que direção de arte, para que trilha sonora? Mata-mata não precisa de nada disso! Banda larga para os privilegiados, lan houses para os demais, vamos distribuir conexão e usar ao máximo todos os nossos MB/segundo para democratizar o headshot.

Eu posso estar resmungando por ter um triste histórico em jogos multiplayer. Mas eu sempre respeitei este estranho universo, com suas regras e gírias, heróis e lendas. Agora, percebo que minha posição jurássica de defensor do PC, defensor da narrativa, defensor da experiência individual, não-socializada, está ameaçada por um mercado que seguiu outro caminho.

AC2 O novo DRM da Ubisoft, popularizado, será um incômodo a mais. Nos dias de chuva, impossibilitado de trabalhar online pela falta de conexão, não terei mais meus jogos a minha disposição. MEUS jogos, que eu comprei, que eu tenho o direito de usar na hora que desejar. Meu "hábito" de estar sempre atrasado em relação às novidades se tornará arriscado: haverá ainda menos garantias de que conseguirei rodar MEUS jogos cinco anos após o lançamento.

Mas eles vão perder. Vão perder por que o faturamento não será ampliado, não haverá prosperidade ou aumento de empregos. Vão perder por que vinte e quatro horas depois do lançamento de Assassin's Creed II para PC, o DRM será quebrado. Escrevo em caixa-alta, mais uma vez: SERÁ QUEBRADO.

E, isolado em minha pequena fortaleza single player, eu estarei sorrindo.

Ouvindo: Doyle W. Donehoo - Purge the Xeno Scum

8 comentários:

Hawk disse...

Este DRM da Ubisoft é um retrocesso. Vai atingir, principalmente, quem compra o jogo original.
Como você salientou, este DRM será quebrado, provavelmente, em pouco tempo, já quem comprar o original terá só dor de cabeça.

Tome como exemplo o MW2 citado no texto, os "pirateiros" conseguem até jogá-lo online, sem dores de cabeça, basta baixar o jogo - que muitas vezes nem precisa ser instalado, é só descompactar - e jogar, já quem compra o original, precisa logar na Steam, logar na IWNet (se quizer jogar online), esperar ela encontrar uma sala para só depois jogar.

Não sei como está agora, mas antes o pessoal que tinha o MW2 pirata podia jogar com o pessoal que tinha original.

C. Aquino disse...

Essa é a informação que eu estava desconfiado. E pensar que eu cheguei a acreditar que a obrigatoriedade dos servidores oficiais fosse ser um tiro certeiro contra a pirataria... novamente, quem paga o pato é o comprador legítimo.

cfthiago disse...

Creio que não devamos nos preocupar com este impropério!
Eles com certeza forçarão um pouco mais suas massas cinzentas e conseguirão arranjar um método alternativo que não obrigue aos seus clientes tamanho desconforto, talvez apenas um check-in semanal ou algo programado antecipadamente.
Uma vez por semana faríamos acesso à internet com nossos jogos originais onde ele seria "vistoriado" pela equipe profissional deles em relação à algum arquivo ou programa que possa ser de origem não oficial.

Falei bonito neh galera! SHOW! Gosto de me expressar assim de vez em quando. Bom, kero dar meus parabéns ao meu novo Camarada (C.) Aquino. Vc conquistou mais um leitor assíduo para seu blog.

Um Abraço!

E c vc tiver dúvidas em relação a PC's entre em contato comigo já q trabalho no ramo e posso te ajudar!
[email protected]

Rodrigo P. Ghedin disse...

E em meio a toda polêmica, uma das grandes está passando batida: o preço de Assassin's Creed II para PC. US$ 60,00, dona Ubisoft!?

[]'s!

Hawk disse...

Verdade Rodrigo. Vi isto no Steam e achei um absurdo (para dizer o mínimo). Onde eles estão com a cabeça?! Pensam que são a Infinity Ward/Activision com o seu MW2?

Mais alguém está achando que este método de DRM, mais este preço absurdo, seja algum tipo de "teste"?

Eles fazem isto para depois soltar o verbo dizendo que jogos para PCs não dão lucro, pois tem muita pirataria, que não compensa investir nos PCs, não vendem nada, etc, etc...

Marcos A. S. Almeida disse...

Amigo, concordo com QUASE tudo o que você disse.Quase porque você disse que ela está certa e depois mostra os motivos pelos quais ela está ERRADA.E a minha opinião é exatamente esta , ela está ERRADA, pelo simples fato de que o jogador/consumidor correto , portador de uma cópia original , não pode ser tolhido de sua liberdade por causa dos " piratas". É o famoso caso do " justo paga pelo pecador".Orgãos públicos fazerem algo desse gênero para manter uma ordem pública é uma coisa, mas jogos são um negócio pra quem vende e ENTRETENIMENTO pra quem compra.Eu não posso ter o meu entretenimento pago ( caríssimo, por sinal) prejudicado por uma decisão infeliz de um NEGOCIANTE.
Taí, analisando por esta ótica talvez eles estejam até certos em tentar proteger o seu negócio, mas de forma errada.Então fica assim estão certos , mas pelo meio errado.

Hawk disse...

Olha aí um link muito interessante sobre o fabuloso DRM da Ubisoft: http://tecnoblog.net/post/ubisoft-atira-no-proprio-pe-e-prova-que-seu-drm-para-jogos-e-ineficaz.htm

Hawk disse...

Veja este link muito interessante, sobre o fabuloso DRM da Ubisoft: http://tecnoblog.net/post/ubisoft-atira-no-proprio-pe-e-prova-que-seu-drm-para-jogos-e-ineficaz.htm

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