Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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9 de novembro de 2009

Primórdios: Advogado do Diablo

Muito tempo tinha se passado desde minha infância querida e meu esquecido Dynavision. O que eu sabia de jogos eletrônicos se resumia a anúncios de revistas. O que eu conhecia dos PCs eram somente minhas frustradas tentativas de usar o Word nas aulas da faculdade com máquinas que já eram obsoletas. Meus passatempos favoritos eram cinema, literatura e RPG, nessa ordem. Até o dia em que o Diablo apareceu em minha frente.

Um trabalho de grupo de uma matéria cujo nome eu nem me lembro mais me levou até a casa de um colega de classe que estava anos-luz à minha frente em termos de tecnologia. Cada peça de seu arsenal era uma total novidade para mim: impressora colorida, internet, Pagemaker, "kit multimídia". O trabalho durou a noite toda, mesmo por que a pesquisa na web devia ser feita a uma velocidade de tartaruga. Para descontrair, ele decidiu mostrar um "joguinho" que ele tinha acabado de adquirir.

Diablo.

diablo As luzes foram apagadas. As caixas de som foram ligadas. Eu juro que o monitor dele era imenso, embora fosse impossível existir naquela época um monitor do tamanho das minhas lembranças ou uma placa de vídeo capaz de jogar a imagem para uma televisão. Em questão de segundos, eu estava imerso naquela masmorra seguindo com olhos ávidos o Guerreiro se aventurando naquele território maldito infestado de monstros grotescos sedentos de sangue. Os efeitos sonoros reverberavam pelo quarto a cada urro de morte, a cada golpe de espada, a cada rosnado das bestas. Mesmo o barulho das moedas caindo fixou em minha memória de forma indelével. A música lúgubre que acompanhava estava no mesmo nível dos melhores filmes de horror. E os gráficos! Quanta diferença dos últimos jogos de fliperama que eu havia visto! Quanta fidelidade, quantos detalhes! Sombras, reflexos, sangue, movimentos precisos.

Então, o mouse foi emprestado pra mim. E a sensação de poder indescritível que se seguiu... EU ESTAVA ENFRENTANDO MONSTROS! Era a concretização de vários sonhos de RPG, cinema e literatura combinados. A interatividade tinha um sabor de algo reconquistado, multiplicado por uma imersibilidade que eu não julgava possível. Obviamente, meu Guerreiro foi trucidado pela falta de experiência de minha parte. E depois daquilo tudo, eu precisei concentrar toda minha força de vontade para voltar ao projeto acadêmico.

O trabalho acabou, tiramos uma excelente nota e não retornei lá.

Entretanto, sem que eu soubesse, eu continuava lá. Na masmorra.

"Fresh Meat!"

diablo02Não demoraria muito tempo para eu descer novamente os subterrâneos de Tristram. Veio meu primeiro computador, meu primeiro CD-ROM. E, logo em seguida, o famigerado CD de jogos de horror da CD Expert. Dentro dele? O demo de Diablo.

Uma grande sacada da Blizzard foi programar o jogo para gerar cenários aleatórios a cada partida. A estrutura dos níveis, as criaturas presentes, o tipo de tesouro encontrado, tudo era diferente, tudo era novidade a cada nova tentativa de chegar ao chefe final. Para quem não tinha acesso ao jogo completo, era o demo perfeito.

ButcherO momento exato em que a versão demo terminava agora me escapa: seria quando o Butcher aparecia ou após ele ser derrotado? Não importa: abrir aquela porta daquele aposento central e ser saudado com a célebre frase era um evento de arrepiar os cabelos. "Ah, Carne Fresca!", exclamava a criatura. Maior do que qualquer outro inimigo visto anteriormente, ele marchava em direção ao Guerreiro brandindo a maior machadinha de açougueiro da história. Atrás dele, um quarto que era o retrato do mais puro gore: corpos mutilados de suas vítimas anteriores espalhados no chão ou pendurados nas paredes. Que satisfação foi vencer aquele sádico demônio pela primeira vez, vê-lo desabando pesadamente aos seus pés!

E era isso. Após o Butcher, a única opção era começar outro jogo. Tedioso? Nem tanto. Muitas foram vezes em que eu repeti os mesmos passos, sem enjoar.

Descida Completa

Sem emprego ou estágio e vivendo de uma mesada franciscana, não havia a menor possibilidade de comprar o Diablo completo. Até que um amigo meu, tão ou mais fã do jogo do que eu, apareceu com uma "versão de distribuição alternativa", com tapa-olho e papagaio no ombro. Que diferença faria? Era isso ou nunca jogar até o fim.

Infelizmente, essa versão carecia de alguns elementos "descartáveis" como música e diálogos. Quem precisa deles, não é? Por um longo tempo eu acreditei que não havia falas no jogo e que todas as conversas com os mercadores ocorriam apenas em texto e que a trilha da descida ao Inferno era o mais puro silêncio. Pobre e iludido mortal, eu era.

No quase silêncio, completei minha jornada e derrotei o lorde das trevas, o próprio Diablo. Quase dois anos depois de meu primeiro contato com aquele mundo de horrores, meu destino havia sido confirmado e eu estava livre.

Ou não?

diablo-openPouco tempo depois, Diablo saiu completo em uma revista no jornaleiro. Legalizado. Barato. Acessível. Tomei vergonha na cara e adquiri o CD. Para minha surpresa, os personagens falavam. Havia música. E havia cutscenes! Joguei tudo novamente e, de uma vez por todas, compreendi a triste sina do herói do jogo. Sem nada faltando, Diablo era outro jogo. Muito melhor, muito mais rico.

Diablo foi o único jogo que eu cheguei ao fim quatro vezes. Duas com o Guerreiro e uma vez com cada um dos outros personagens. Estava prestes a fechar uma segunda vez com o Mago quando me dei conta que meu dedo indicador doía tremendamente de tantas vezes que eu apertara o botão direito do mouse. Diablo pode ter uma jogabilidade muito fácil, mas o esforço repetido causa problemas físicos.

Deixei Diablo de lado. Agora, estava livre de verdade. Um dos títulos que me puxou de volta ao mundo dos jogos eletrônicos jazia exaurido em minha estante.

Diablo3 Tyrael

Diablo II veio e foi sem causar alvoroço em minha mente. Diablo III se aproxima e não me anima. Em minha cabeça, cutscenes a parte, o desafio foi vencido. Outros jogos vieram e tomaram seu trono. E Diablo fica como um cartão-postal de um lugar fantástico para onde não se volta mais.

Meu indicador direito agradece.

Ouvindo: Soundtrack - You've Got Red On You - Shaun Of The Dead Suite

2 comentários:

Skywalkerpg disse...

Parabens cara, emocionante a matéria, causou uma nostalgia, voce escreve muito bem mesmo.

Éder RM disse...

Muito bom o texto! De fato, o primeiro Diablo tem algo único em sua atmosfera.

Mas, pessoalmente, acho que o o D2 expandiu praticamente todos os elementos possíveis do D1.

E a história do D2 é simplesmente épica, extremamente bem contada nas maravilhosas cutscenes. Cansei de ver e rever aqueles vídeos, principalmente a introdução e a cena final (do D2 clássico, não a da expansão, embora todas sejam muito boas).

Estou bastante animado com D3 por tudo que já li, e umas das maiores razões é a história. Tyrael, Cain, o que será deles? E o mundo sem a worldstone?

A trilogia de livros "Sin War" é fascinante, introduz muitos elementos novos, como toda a função da worldstone, dá uma razão pro mundo se chamar Sanctuary, e fato de que os humanos são sucessores dos Nephalem, que na verdade são... vou deixar sem spoilers, quem quiser saber mais que pesquise :). Pessoalemente, achei esse elemento perfeito, casa totalmente com o conflito Heaven / Hell.

Enfim, não tenho dúvida de que D3 será um jogo viciante, muito bem polido, bem no estilo da Blizzard, mas o que mais move minha imaginação nesse momento em relação à franquia são todas as possibilidades que a história pode abordar.

Sim, sou um fanboy do universo Diablo. :D

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Blog criado e mantido por C. Aquino

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