Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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24 de janeiro de 2009

Mercado Selvagem

Um professor americano levantou a possibilidade de apresentar um curso de economia baseado em... World of Warcraft. O O economista e acadêmico David Friedman acredita que os mecanismos econômicos envolvidos na transação de itens no jogo online são bastante complexos e apresentam questões interessantes para um futuro economista. Temas como mercados e preços, leilões, oferta e procura, cartelização, demanda, padrões de preços, arbitragem estão presentes na dinâmica do jogo.

WoW Friedman, jogador do MMORPG, sinaliza que o jogo poderia despertar o interesse dos estudantes, ao mesmo tempo que oferece a eles amplo material para análise.

Ele cita o bizarro caso que aconteceu com sua esposa, freqüentadora da casa de leilão dentro do mundo de World of Warcraft. Ela teria testemunhado em tempo real uma tentativa de cercar um nicho de mercado e criar um cartel – um cartel ao qual ela teria sido convidada a participar. Sua recusa a "entrar no esquema" foi acompanhada por uma ameaça explícita de ser tirada do mercado por mercadorias mais baratas que as dela.

Meus conhecimentos de economia são mínimos, mas eu sei que a tática é uma versão em menor escala do dumping. O cartel secreto dentro de WoW pretendia minar a concorrência (todos aqueles que não aderissem) vendendo mercadorias por um preço absurdamente baixo. Mas Friedman prova que existe uma diferença entre uma quadrilha de aproveitadores eletrônicos e um autêntico catedrático em economia, e usa seu conhecimento para apontar o erro do pretenso cartel:

"O organizador do cartel aparentemente não leu a análise de Aaron Director, refletido no clássico artigo de McGee sobre o mito do preço predatório; não lhe ocorreu que se ele estava vendendo, a um preço artificialmente baixo, dez vezes mais gemas que seu alvo, ele também estava perdendo dinheiro dez vezes mais rápido. Levou alguns dias para ele descobrir a falha em sua estratégia e abandoná-la."

Roubo nas Estrelas

EVE

EVE Online é para muitos jogadores A alternativa para quem não está interessado em elfos, orcs, feiticeiros e outros clichês de RPG repetidos ao infinito. Ao contrário da concorrência, este MMORPG abrange o espaço sideral, civilizações superavançadas, naves espaciais e grandes corporações.

Estas grandes corporações são criadas, organizadas e mantidas pelos próprios jogadores, uma versão megalômana e burocrática das antigas guildas. Entre estas grandes empresas virtuais existentes no universo do jogo, se destacam os bancos privados. Ainda que o mecanismo do jogo ofereça um sistema bancário, digamos assim, público, alguns "especuladores" preferem montar sua própria estrutura e investir seu precioso dinheiro virtual em fundos de grande risco.

Como no mundo real, estes fundos privados apresentam alta rentabilidade. Como no mundo real, eles são controlados por seres humanos. Como no mundo real, a carne é fraca e impera a lei da selva. Esta semana, um ser humano realizou o maior desfalque virtual da história.

O jogador Xabier, Gerente de Investimentos do banco privado Dynasty Banking, sumiu com 86 Bilhões de ISKs (a moeda do mundo de EVE Online) que estavam sob sua responsabilidade direta. Rapidamente, a diretoria do banco virtual divulgou uma nota amenizando o desvio do dinheiro e ratificando que a organização ainda tem saldo para honrar suas dívidas e que os investidores não devem se preocupar.

O que acontece com Xabier? Pelas regras do jogo, não há violação nem punição. Desde que ele não converta sua fortuna em dinheiro real (cerca de 350 dólares, no final das contas), a produtora  não tem motivos para cancelar sua assinatura. Dentro da mentalidade de tentar criar uma atmosfera opressora e competitiva em um futuro distópico, Xabier está, na verdade, prestando um favor para os criadores do jogo. Considerando que a "morte" tem pouco ou nenhum efeito no universo de EVE, também é pouco provável que Xabier tenha sua cabeça colocada a prêmio pelos outros jogadores. Não será de se estranhar se, dentro em breve, ele abrir seu próprio ramo de negócios ou arregimentar uma frota de naves mercenárias e der um golpe de estado em algum enclave criado por outros jogadores.

Admirável Mundo Novo

Situações como essas são mais comuns do que se imagina, à medida que regras mais elaboradas são implementadas nos jogos online, à semelhança do mundo real.

Em 2003, o professor de economia Edward Castronova, da Universidade Estadual da Califórnia, já propunha um estudo sobre as economias virtuais. E ia além, ao perguntar se estas economias iriam afetar as economias e governos do mundo real. A resposta? "Se os mundos virtuais se tornarem uma grande fração da vida diária dos homens, seu desenvolvimento pode ter um impacto nas macroeconomias da Terra".

Ouvindo: Wolfsheim - Leave No Deed Undone (Live)

Um comentário:

Paco D. Lee disse...

Isso é algo inimaginável mesmo, mas é cada vez mais real.

O jogo Second Life e outros jogos, como o próprio WoW já movimentam uma grande economia informal.

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Blog criado e mantido por C. Aquino

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